sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O velho PS

A minha crónica no Jornal Torrejano.

Aquando da formação do actual governo, não faltaram maus agoiros sobre o descalabro da economia, o descontrolo do défice e a desmedida loucura da extrema-esquerda, isto é, do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista. Agora que, como resultado das tragédias provocadas pelos incêndios, o governo enfrenta enormes dificuldades e abre o flanco à espada da oposição, é interessante olhar para as profecias e para a realidade. As profecias, nem uma se confirmou. A economia tem-se portado bem, o desemprego tem vindo a diminuir, o défice está a ser controlado. Também se descobriu que a extrema-esquerda é bastante moderada e responsável e, na prática, tem contribuído para os bons resultados da governação e para a boa imagem do país lá fora.

No entanto, estava sob os nossos olhos o principal problema, aquele que ninguém viu, que é a causa principal das actuais dificuldades de António Costa e motivo de arrufos com o Presidente da República. Esse problema chama-se Partido Socialista, o velho PS. António Costa, em desespero de causa, sua e do partido, teve um golpe de génio, ao fazer o acordo em que se funda o seu governo. No entanto, o seu Partido Socialista não deixou de ser o velho PS, o mesmo que gerou personagens como José Sócrates, Armando Vara e outras pessoas que, apesar de não passarem pelas vicissitudes onde estes se enrolaram, não gostaríamos que pertencessem ao círculo de amizades dos nossos filhos. E aquilo a que me refiro não são a supostas condutas ilegais, mas à ligeireza com que se tratam muitos assuntos públicos, à facilidade com que o aparelho partidário toma conta das instituições para seu gáudio e proveito.

O velho PS não morreu quando Sócrates saiu, até porque ele já existia antes de Sócrates ter chegado, como Guterres bem o sabia. E é esse velho PS que tem grande responsabilidade no que pior se passa neste governo. Toda a história dos incêndios deste Verão – embora a responsabilidade tenha de ser partilhada por outras forças partidárias e sociais – é um retrato cruel, mas fidedigno, desse velho establishment partidário. Ligeireza, facilitação, falta de rigor, e uma visão do Estado como lugar de emprego para os rapazes e as raparigas que começaram a vida a colar cartazes. O PS não é o único, mas é ele que agora governa. O que falhou neste Verão, não foi a economia – graças ao professor Centeno, que não pertence ao velho PS –, não foram exigências desmedidas dos parceiros da maioria parlamentar, que se mostraram sempre rigorosos e responsáveis. Foi mesmo o velho PS. E o problema é que parece não haver outro.

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